Metáforas
A montanha de cristal


por Madalena Junqueira

Era uma vez sete amigas: Lana, Adna, Iole, Priscila, Eunice, Fátima e Vânia, que decidiram visitar uma conhecida montanha de cristal, onde se dizia haver respostas a todas as perguntas para quem conseguisse chegar lá. Não que fosse um caminho muito difícil, porém, poucas pessoas chegavam. Ninguém conseguia explicar o porque desse fato.

Depois de concluídos todos os preparativos para essa longa viagem elas deram início a operação de partida.

O patrao de Priscila era muito exigente, e quando soube que ela iria viajar, pediu-lhe para fazer um importante trabalho, de última hora. Ela então, temendo desagradá-lo, e também por ser incapaz de dizer não a alguém, mesmo contra sua vontade, desistiu da viagem.

Partiram então, seis amigas.

Durante a viagem Fátima estava nervosa, pois nunca havia deixado a filha adolescente, sozinha e acabou por desistir também e voltou. Prosseguiram cinco amigas.

Quando chegaram na pousada já era noite. Pernoitaram ali, a espera do guia que as conduziria ao seu destino. Vania não gostou das críticas de Eunice sobre o comportamento de sua amiga Fátima e travaram violenta discussão. Eunice, ofendida, também decidiu voltar.

Restaram quatro amigas.

No dia seguinte, logo que o guia chegou e falou sobre as dificuldades e os possíveis perigos da jornada final, Vania entrou em contato com seus medos mais profundos e também desistiu de prosseguir.

Faltava tão pouco e elas já estavam tão perto que as tres amigas restantes Lana, Iole e Adna acessaram os seus recursos, como coragem e entusiasmo e seguiram em frente.

No meio do caminho o guia passou mal e precisou voltar. Explicou a elas como chegar na montanha e as tres foram sozinhas, contando com a força e a garra que as fizera chegarem até lá.

Sua curiosidade e seu espírito de aventura falavam mais alto, como também a sua grande busca por respostas a muitas questoes de suas vidas.

Não foi difícil vislumbrar a montanha, pois os raios do sol do meio dia, refletindo nos minúsculos pedaços de cristal serviram-lhe de orientação, tal qual aquela famosa estrela guia, tão conhecida nossa!

O caminho era estreito e tortuoso, cheio de buracos e pedras. Com muito cuidado, venceram esses obstáculos.

Ao chegarem ao sopé da montanha desceram do carro que as conduzia, por não mais haver estrada e fizeram o resto do caminho a pé. Ali mesmo já começaram a sentir a força da energia da montanha e, a medida que subiam sua energia aumentava, sua curiosidade, entusiasmo e alegria cresciam mais e mais. Sentiam-se cada vez mais integradas ao local.

Nem o causticante sol de verao do meio dia foi capaz de desanimá-las nessa subida íngreme, cujo significado não era de uma subida comum, uma simples caminhada, porém uma ascensão em suas vidas, que nunca mais seria a mesma a partir desse dia.

Quando finalmente chegaram ao topo da montanha, o coração de cada uma delas disparou de emoção e elas, literalmente, perderam o fôlego, diante de tão magnífica paisagem, de 360 graus debaixo de seus pés. Circulando, deslumbradas, elas se ajoelharam para agradecer a graça de estar ali. Rezaram, cantaram, dançaram e gritaram ouvindo o eco de suas vozes se espalhando através dos vales verdejantes e desertos que circundavam a montanha. Era como se elas estivessem no centro de um altar de cristal, feito exclusivamente para elas, recebendo as bençãos e a energia da natureza, como premio pela sua perseverança.

A luz do sol a iluminá-las fazia com que elas se integrassem mais e mais na paisagem e, com profunda emoção, que chegava até as lágrimas, cada uma delas, em silencio, concentrando-se, formulou suas perguntas. As respostas surgiam em forma de ideias, a cada uma, na medida em que eram solicitadas. E foi uma longa sucessão de choros, alternados com risos de surpresa e alegria.

Elas sentiam no seu corpo, em todo o seu ser, em cada célula, a força , a energia, o merecimento de estar ali, de ter sido quem foi e de estar se transformando agora, em uma nova pessoa, melhor, muito melhor que antes.

E no auge desse momento mágico, espontaneamente, cada uma delas, despiu-se de suas vestes, que eram a única separação que ainda havia entre elas e a força dos elementos. Com esse gesto simbólico, cada uma ofereceu o melhor de si a natureza, num contato direto, de pele com o vento, com a brisa, com o sol, com o verde dos vales, com as pedras, com os cristais, com essa energia poderosa, de transformação, tal qual uma alquimia.

Nenhuma delas soube precisar o tempo decorrido. Pareceu-lhes, as vezes, um minuto, as vezes uma eternidade. No momento em que despertaram desse transe, o sol já estava declinando no horizonte, lançando raios avermelhados aos cristais que reluziam intensamente, como a chamá-las a realidade e iluminar seu caminho de volta.

Ao se despedirem da montanha, de pé, deram-se as maos e fizeram uma prece de agradecimento e foi nesse momento que aconteceu o inesperado. Ouviram, ou pensaram ter ouvido, uma voz estrondosa, porém muito doce, que lhes disse:

-"Esta é a resposta mais importante que voces vieram aqui buscar:

O maior desafio do ser humano é conviver e lidar com o próprio ser humano, especialmente consigo mesmo."

"Guardem essas palavras e, a partir de agora, procurem se conhecer mais e se perdoar sempre. Em consequencia, voces serao capazes de fazer o mesmo com todas as pessoas.

Levem essa mensagem e a transmitam a todos aqueles que encontrarem em seu caminho e dessa maneira voces estarao contribuindo para um mundo melhor."

O caminho de volta para a pousada foi feito em absoluto silêncio.