Metáforas
A baratinha


por Madalena Junqueira

Era uma vez um linda baratinha chamada Tatinha que, cansada de correr daquelas horríveis e mal cheirosas bolinhas de naftalina, estava se sentindo muito triste. Com as naftalinas ela até já havia se acostumado, porém era muito difícil aguentar o cheiro dos inseticidas que eram jogados na sua comida. Era um tremendo desaforo! Uma comida tão boa. Tinha até comida francesa: canard l’orange. Quando ela estava toda satisfeita em volta da lixeira, onde deixavam cair pedaços de comida, deliciando-se, lá vinha aquele aerosol horroso, estragar o seu prazer.

Muito revoltada, então, juntou sua trouxinha e foi-se embora daquela casa, decidida a não mais ali voltar. No caminho, encontrou um belo e guapo colega, que era um barato! Jovem e dinâmico, seu amigo, o Tatão, também estava à procura de um novo lar. Resolveram juntos irem à procura de um lugar mais agradável, onde as pessoas fossem educadas e tivessem consideração pelos bichinhos.

Depois de muito caminharem, com suas pesadas trouxas nas costas, chegaram a um quintal, onde pararam para descansar. O lugar era maravilhoso, cheio de lixo e entulhos, papeis velhos, jornais, revistas, caixas de papelão cheias de quinquilharias. Um paraíso! E o melhor de tudo: a lata de lixo. Lotada de comida. De todos os tipos, para todos os gostos. Todos os dias ela era reabastecida. De vez em quando o lixo era recolhido, porém deixavam toda a comida que caiu em volta da lata, ali mesmo, para a Tatinha e o seu amigo Tatão. E eles podiam visitar a casa sempre que quisessem. Ninguém os incomodava. Gente muito educada!

Ficaram tão felizes que decidiram morar ali mesmo.

Como era de se esperar, casaram-se e tiveram muitos filhinhos, e ali, naquela casa tão aconchegante, viveram felizes para sempre.